Vigilante Rodoviário


Super Herói: Vigilante Rodoviário
Autor: Ary Fernandes 
Ano: 1959
Alter Ego: Inspetor Carlos
Poderes: Possuía um automóvel Simca Chambord, uma moto Harley Davidson e seu fiel companheiro o pastor alemão Lobo, além de uma arma
Base de Atuação: Planeta Terra - Brasil - São Paulo/SP

Vigilante Rodoviário - É uma série de televisão brasileira criada e dirigida pelo cineasta Ary Fernandes e pelo produtor Alfredo Palácios, foi exibida no início da década de 1960 pela TV Tupi. Fernandes também foi o compositor da canção tema de abertura da série, intitulada Canção do Vigilante Rodoviário. Foi a primeira série brasileira filmada em película de cinema, para concorrer com os enlatados americanos.

A bordo de um Simca Chambord (é um automóvel produzido pela Simca francesa, de 1958 a 1961, desenvolvido a partir do Simca Versailles) ou de uma motocicleta Harley Davidson, o Inspetor Carlos enfrenta todos os tipos de criminosos. Em seu trabalho, o Vigilante é acompanhado pelo seu fiel companheiro o pastor alemão Lobo, um cachorro muito esperto, no combate ao crime. A grande missão da dupla é manter a lei nas rodovias de São Paulo. Uma dupla que transmitia muita simpatia, inspirando proteção e segurança e veiculando mensagens educativas. Algumas crianças amigas do Vigilante sempre apareciam no seriado, para obviamente aproximar mais o programa do público infantil. eram elas: Tuca, Fominha, Gasolina e Arlindinho.

Nosso herói brasileiro representava um valente e bravo integrante da Polícia Rodoviária Estadual de São Paulo, enfrentando todo o tipo de bandido que estivesse trafegando pelas rodovias paulistas. Corria atrás deles com seu Simca Chambord ou com a moto Harley-Davidson, sempre acompanhado pelo seu fiel escudeiro, o cão Lobo, que também atacava a bandidagem. O interessante é que, depois do fim do seriado em 1962, Carlos Miranda, ainda iniciante na carreira de artista, ganhou tão pouco atuando na série e gostou tanto de viver um agente da lei que acabou concursando para, de fato, se tornar policial rodoviário em São Paulo. 
Logo da série/1961
Vigilante Rodoviário e o cão Lobo/1961




                                                                                
Seriado que deixou saudade para aqueles com mais de 60 anos de idade, “O Vigilante Rodoviário” invertia o dito popular: ao invés da narrativa imitar a vida, aconteceu o contrário. o inspetor Carlos, interpretado por Carlos Miranda, acabou sendo incentivo para o ator se tornar um policial rodoviário na vida real. Nosso saudoso Vigilante Rodoviário partiu nessa semana aos 91 anos de idade, deixando triste o coração de muitos brasileiros que cresceram assistindo aos 38 episódios gravados da série, e ouvindo o jingle que tocava na abertura de cada história.

Em 1965, depois de passar na prova de admissão, transformou-se no inspetor Carlos, indo parar na área de comunicação da Polícia Rodoviária Estadual paulista. Ficou lá até 1989, quando se aposentou (ou “reformou-se”, como dizem no meio), já com a patente de tenente-coronel, uma alta graduação na corporação.  

Vig. Rod. e Lobo - por Lucas Lisbão/2018
Vig. Rod. e Lobo - por Lucas Lisbão/2018













Na série, ele utilizava motos Harley-Davidson, sedãs Ford importados ou então o famoso Simca amarelo e preto, nas cores da corporação. A Harley e os Ford eram emprestados pela própria Polícia Rodoviária, e o Chambord veio logo depois, cedido pela própria Simca (cinco unidades). Curiosamente, a corporação paulistana nunca utilizou Simca Chambord na sua frota de veículos policiais, mas os Ford americanos e Jeep da Willys-Overland do Brasil. Uma bela jogada de marketing para promover o modelo da Simca, lançado cerca de dois anos antes no mercado nacional. 

Quando se aposentou, bem no final da década de 1980, o inspetor Carlos começou a participar de encontros de carros antigos e outros eventos do tipo. Para não ir de mãos vazias, comprou e reformou um Simca Chambord 1960, transformando aquele carro numa réplica dos carros utilizados no seriado. Inclusive, ele ia aos encontros com o sedã vestindo uma farda de policial rodoviário da época, que ele mandou fazer. Após perder o tal carro restaurado num acidente em 2007, acabou recriando um outro Chambord, desta vez 1959, como o carro do seriado.
Vig. Rod. - por Lucas Lisbão/2018
Vig. Rod. e Lobo - por Lucas Lisbão/2018














Mas, certamente, Carlos Miranda, ou “inspetor Carlos”, deixará saudade. Nascido no bairro da Mooca, em São Paulo, em 1933, sonhava com a carreira artística e nunca pensou que seria um militar de alta patente, como de fato foi. Até a forma como chegou ao estrelato da série foi incomum. Enquanto faziam inúmeros testes com possíveis atores para interpretar o policial rodoviário, Carlos trabalhava como assistente de produção. Após acharem que ele levava jeito para o papel, ele fez alguns testes e…pronto! Haviam encontrado o protagonista do seriado que o fez ser conhecido nacionalmente, ainda que o salário não fosse à altura. 

Por essas e outras, Miranda acabou se interessando muito pelo ramo de vigilante rodoviário, e anos depois estava vestindo a farda de verdade, como profissional da corporação. História riquíssima e única. O inspetor Carlos não “morreu”, mas sim “partiu para sua última e eterna missão”. Nosso primeiro e inesquecível herói.
Vig. Rod. e Lobo - por Lucas Lisbão/2018

Vig. Rod. - por Lucas Lisbão/2018








O Cão Lobo 

Existe um episódio em especial onde o inspetor Carlos conta ao menino Tuca como foi que seu fiel parceiro Lobo entrou para corporação. O quarto episódio da série policial O Vigilante Rodoviário apresenta a origem do cão Lobo, fiel escudeiro do inspetor Carlos. O pequeno Tuca tenta, sem sucesso, treinar seu cãozinho Gasolina. Para ajudá-lo, o inspetor Carlos conta a história de Lobo, seu companheiro de patrulhas, que encontrou ainda filhote. À medida que o cão crescia, era cada vez mais difícil mantê-lo no quartel já que não se permitia a presença de animais.

Carlos recorda-se da amizade que construiu desde que avistou o cãozinho ainda pequeno enquanto patrulhava uma estrada à noite. Ele reparou no pequeno animal que atravessava a pista e o resgatou. O bichinho tremia de medo e de frio na escuridão da via. Ele deu abrigo e alimentação ao cachorro no posto da polícia rodoviária na expectativa de que seu dono aparecesse. Naquela noite, diante da situação, teve a ideia de adotar o cãozinho para ser seu parceiro nas patrulhas pela estrada.

O inspetor lembra que a recepção do animalzinho entre os colegas de quartel foi impressionante. O cão conquistou a todos. Naquele mesmo dia ele foi batizado de Lobo. A primeira cama foi uma caixa de papelão no alojamento da equipe.

Carlos passou a levar o Lobo para o canil da força pública em seus dias de folga. Os profissionais adestravam os cães sobre a sua guarda para executar precisamente determinadas tarefas. Esses animais eram preparados para prestar serviço à sociedade. Ambientado a esse espaço, Lobo crescia rápido e passou a treinar aprendendo depressa. Com a dificuldade de mantê-lo na corporação sem o consentimento do comandante, Carlos pensou em entregar o amigo para outra força policial.

A situação muda de figura quando Lobo fez um salvamento durante uma operação na estrada e o inspetor foi autorizado a permanecer com o cão no quartel. O cãozinho evitou que uma criança pequena fosse atropelada na rodovia enquanto os pais estavam distraídos.
Vig. Rod. - por Lucas Lisbão/2018

Vig. Rod. e Lobo - por Nestablo Ramos






                                                                                                            Criação e concepção
Desde criança, Fernandes sentia falta de um herói 100% brasileiro. A criação da série foi a realização deste antigo sonho. A escolha do tema foi a admiração que ele próprio nutria pela Polícia Rodoviária e pela simpatia que a população sentia por este órgão. Foi a primeira série de televisão filmada em película de cinema no Brasil. No total, foram 38 episódios, nos quais os personagens Inspetor Carlos, interpretado por Carlos Miranda, e seu cão Lobo, lutavam contra o crime, a bordo de uma motocicleta Harley-Davidson 1952 ou de um Simca Chambord 1959, na altura do km 38 da Rodovia Anhanguera onde a maior parte dos episódios foram filmados, devido ao clima ensolarado em grande parte do ano, fator fundamental para as filmagens externas.

Foi ao ar pela primeira vez em uma quarta-feira de março de 1961, na TV Tupi às 20h05 após o Repórter Esso, e patrocinado pela Nestlé do Brasil. O primeiro episódio da série foi "O Diamante Grão Mongol", sobre ladrões internacionais que entraram no país pelo Porto de Santos. Devido ao pouco tempo disponível entre as filmagens dos episódios, foi necessário que o personagem do vigilante fosse dublado. Para esta tarefa foi contratado um radio ator da Rádio São Paulo. O nome do radioator da Rádio São Paulo, que enriqueceu e marcou para sempre o personagem do Vigilante Carlos, emprestando sua voz numa dublagem perfeita é: “Bráulio Vilela Magalhães”. Bráulio faleceu aos 93 anos, em 2019. Seu nome artístico era: “Mário de Alencar”. Seu trabalho foi simplesmente perfeito.

A produção alcançou, na época, a expressiva marca de 57 pontos de audiência. Com a realização da série, o Brasil despontou como primeiro país na América Latina e o quarto no mundo a produzir uma obra em película para a televisão. Durante a premiada série, grande parte das filmagens foi desenvolvida na altura do km 38 da Rodovia Anhanguera onde o clima era ensolarado na maior parte do ano, fator fundamental para o sucesso das gravações externas.

O elenco reuniu grandes nomes da dramaturgia brasileira. Entre os artistas que participaram dos episódios da série estão astros e veteranos como Reginaldo Vieira, Ary Fontoura, Ary Toledo, Etty Fraser, Fúlvio Stefanini, Juca Chaves, Milton Gonçalves e Rosamaria Murtinho, Stênio Garcia e Valentino Guzzo

Prêmios
A série recebeu expressivos troféus, entre eles, o Troféu Roquete Pinto e o Troféu Imprensa.

Reprises
Em 1967, a série foi exibida novamente pela TV Tupi e durante a década de 1970, foi reprisada pelas TVs Excelsior, Cultura, Globo e Record.

No ano de 2008, Ary Fernandes/PROCITEL e o Canal Brasil/Globosat selaram parceria e trouxeram novamente para TV as aventuras do primeiro herói brasileiro. Dos 38 episódios originais, um deles foi totalmente deteriorado (perdido) e os outros dois tiveram problemas e não puderam ser remasterizados e telecinados. Um total de 35 episódios foram relançados a partir de 9 de março de 2009 pelo Canal Brasil, todas às segundas às 20h30, com reapresentação nas terças às 15h30 e domingos às 11h.

Em março de 2020, a série passou a ser exibida pela TV Brasil.

Outras mídias:

Quadrinhos
Ainda na década de 1960, o personagem ganhou uma revista em quadrinhos pela Editora Outubro, a revista era produzida por artistas como Gedeone Malagola (roteiros) e Flavio Colin (desenhos).

Em 2001, o editor e roteirista Roberto Guedes chegou a escrever uma graphic novel do Vigilante Rodoviário para o Studio Elenko, entretanto o projeto não saiu do papel.

Filme
Em 1978, Ary Fernandes com a sua produtora Produções Cine Televisão (PROCITEL) e outros cineastas participantes foram escolhidos através de um projeto da Embrafilme que visava incentivar a produção nacional de filmes de alta qualidade. Com o episódio piloto O Vigilante Rodoviário pronto, seria encaminhado à censura federal, e consequentemente, seria apresentado às emissoras para que fosse dada a continuidade à nova série. O ator escolhido para viver o Inspetor Carlos seria o ator Antônio Fonzar. Para viver o cão Lobo, foram utilizados cinco cães da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Mas por problemas enfrentados pela Embrafilme na época, no entanto, o projeto não pôde ser concluído, ficando restrito a somente esse filme – não sendo exibido comercialmente.

Filme - O Vigilante Rodoviário/1978

Sequência
Em 2013, o projeto de um novo remake da série foi anunciado.

O Legado
Infelizmente o ator que interpretou o Vigilante Rodoviário "Carlos Miranda" nos deixou em 17 de fevereiro de 2025 aos 91 anos no interior de São Paulo. O "Vigilante Rodoviário" marcou uma época. Foi uma das primeiras séries da TV. Em uma entrevista há 22 anos, Carlos Miranda falou do desafio de fazer pela primeira vez um seriado com sotaque brasileiro: "Nos preparamos para fazer uma série de filmes com um herói nacional que tivesse Zé, João, São Paulo, Rio de Janeiro. Porque, até então, a televisão brasileira só passava filmes estrangeiros".

A série que foi exibida primeiro pela extinta TV Tupi e, depois, reprisada pela Globo nos anos 1970, mostrava o policial rodoviário combatendo o crime nas estradas junto do cachorro Lobo. Carlos Miranda ficou tão ligado ao papel de policial que acabou mudando de carreira. Quando a série acabou, ele foi convidado para ingressar na Polícia Rodoviária de São Paulo. Fez concurso e entrou para a corporação. No fim dos anos 1990, já como tenente-coronel, passou para a reserva.

"Não me arrependo nem um pouco de ter seguido esse caminho porque hoje, quando eu sou recebido pelo público da época ainda, eu me sinto realizado", contou Carlos Miranda. De lá para cá, participava de palestras e de encontros de carros antigos. Chegou a comprar um do mesmo modelo do usado no seriado.

O corpo de Carlos Miranda foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo. Ele tinha 91 anos, morava no interior de São Paulo e morreu por causas naturais.

"Ele era uma pessoa extremamente ativa. Ele sempre era homenageado e ele deixa realmente um exemplo para os militares, para a Polícia Rodoviária e para todos nós", afirma Rosana Toledo Miranda, filha de Carlos Miranda.

Várias gerações de policiais rodoviários foram prestar homenagens a Carlos Miranda, que continuou próximo da corporação mesmo depois de ir para a reserva.

“É um ícone da Polícia Rodoviária. Representa muito para a gente”, conta Gilberto Aparecido Pinheiro, sargento da Polícia Rodoviária de São Paulo.

"Quando a gente tinha um evento e ele estava lá, ele chamava mais atenção às vezes até do que os protagonistas daquele evento. Para nós, ele sempre vai ser o eterno Vigilante Rodoviário Carlos Miranda", conta Hugo Araújo Santos, coronel comandante da Polícia Rodoviária de São Paulo.

Obs: Ao que tudo indica as artes do Lucas Lisbão eram inicialmente para um projeto que estava sendo desenvolvido na época sobre o personagem, mas pelo que parece não foi dado seguimento pois não há maiores informações até a publicação desta postagem.

Vigilante Rodoviário - por Carlus Alexandre/2010



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